Referência mundial no combate à surdez, médico do ‘Centrinho’ de Bauru reforça importância da prevenção
10/11/2025
(Foto: Reprodução) Centrinho de Bauru tem 56 anos de história e é referência mundial
Divulgação
Seja exportando profissionais capacitados para todos os cantos do Brasil e da América Latina ou recebendo pacientes de diferentes partes do mundo, o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), conhecido como “Centrinho” de Bauru (SP), é referência mundial no tratamento, prevenção e reabilitação da surdez, condição que tem seu Dia Nacional de Prevenção e Combate celebrado nesta segunda-feira (10).
Desde 2023, o Centrinho integra o complexo do Hospital das Clínicas de Bauru (HCB) e oferece atendimento gratuito a pacientes de todas as idades por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
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Segundo o professor Dr. Luiz Fernando Lourençone, chefe técnico de Otorrinolaringologia e responsável técnico pelo serviço de Audiologia do HCB, o Centrinho é hoje o maior centro de reabilitação auditiva e de anomalias craniofaciais do país, e um dos maiores do mundo.
“O Centrinho responde pelo maior serviço de reabilitação auditiva e de anomalias craniofaciais do Brasil e um dos maiores do mundo, envolvendo não só a assistência ao paciente, mas também a pesquisa e a formação de profissionais”, explica o médico.
Além dos atendimentos especializados, o hospital tem papel decisivo na formação de profissionais de saúde, com ex-alunos que atuam em diversos estados brasileiros e em países da América Latina.
Professor Dr. Luiz Fernando Lourençone destaca que o Centrinho de Bauru (SP) é o maior em reabilitação auditiva e de anomalias craniofaciais do Brasil
Arquivo pessoal
As principais causas da surdez no Brasil
A perda auditiva pode ter várias origens: infecciosas, genéticas, traumáticas ou ambientais. Em entrevista ao g1, o médico explica que as infecções ainda são uma das principais causas entre crianças, enquanto a exposição a ruídos é a grande vilã entre adultos e idosos.
“Nas crianças, destacamos as otites de repetição e as infecções congênitas, como rubéola e citomegalovírus. Já entre adultos e idosos, o problema está na exposição a ruídos, seja no ambiente industrial, seja no uso recreativo de fones de ouvido em volumes excessivos”, detalha o especialista.
Além das causas externas, o médico ressalta que as condições genéticas também têm grande peso.
“Nem toda causa genética é familiar. Existem mutações novas, em que apenas aquele paciente tem a condição, sem histórico anterior na família”, completa.
Prevenção à perda auditiva
Para o especialista, a prevenção é o melhor caminho para evitar perdas auditivas irreversíveis. Entre as principais recomendações do médico ao g1 estão:
Evitar volumes altos em fones de ouvido e sons ambientes;
Fazer pausas ao usar fones por longos períodos;
Usar protetores auriculares em locais de trabalho com ruído intenso;
Tratar corretamente infecções de ouvido, especialmente em crianças;
Realizar o Teste da Orelhinha nos primeiros dias de vida.
“O problema não é o fone de ouvido em si, mas o volume e o tempo de exposição. Isso é um fator prevenível, que depende de orientação e conscientização”, reforça o médico ao g1.
Com implante feito em hospital de Bauru, menina surda começa a ouvir e desenvolve a fala
Teste da Orelhinha e tratamentos de reabilitação
Realizado ainda nas maternidades, o Teste da Orelhinha é uma das principais ferramentas de triagem auditiva neonatal. O exame não define a surdez, mas aponta possíveis alterações, permitindo encaminhamento rápido a centros de referência.
“Qualquer perda auditiva prejudica a alfabetização e o aprendizado. O diagnóstico precoce muda completamente o desenvolvimento da criança”, explica.
O Centrinho oferece diferentes técnicas de reabilitação auditiva, conforme a causa e o grau da perda. Tudo gratuito e encaminhado pelo SUS.
Segundo o médico, os aparelhos auditivos convencionais continuam sendo o método mais comum, mas os implantes cocleares têm transformado a vida de pacientes com surdez severa ou profunda.
“O implante coclear é um dispositivo eletrônico semi-implantável que processa o som de forma elétrica. Com reabilitação e treinamento, o paciente volta a escutar em limiares normais para a comunicação do dia a dia”, explica Lourençone.
Teste da orelhinha realizado em bebê recém-nascido
Caio Coutinho/G1
O hospital também realiza implantes ósseos e próteses acústicas implantáveis, voltados a casos específicos, como pacientes que nasceram sem orelha. Entre os milhares de casos atendidos, o especialista relembra histórias de superação marcantes.
“Lembro de uma paciente, que veio do Rio de Janeiro e outra do interior do Piauí. Hoje elas escutam, falam normalmente e estão com ótimo desempenho escolar. Esse é o resultado que nos motiva todos os dias”, lembra.
Apesar de ser mais comum em crianças a aplicação de transplantes cocleares, segundo ele, a reabilitação não tem idade limite, uma vez que o principal objetivo é trazer qualidade de vida ao paciente.
“Já operamos um paciente de 88 anos. Ele dizia que valeu a pena, porque ganhou qualidade de vida. Viver bem é tão importante quanto viver muito”, destaca.
Apesar dos avanços, o médico aponta dois grandes desafios: o diagnóstico tardio e o estilo de vida moderno, marcado pela exposição constante a sons intensos.
Além disso, o alto custo de próteses auditivas mais modernas ainda limita o acesso de parte da população. Mesmo assim, o médico permanece otimista.
“Hoje, praticamente todo tipo de perda auditiva tem tratamento. A sociedade tem um papel importante na prevenção e na divulgação dessas informações. A tecnologia pode e deve ser usada a nosso favor”, finaliza.
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